Contos e Lendas
MONTE DA BURRA
Era uma vez um Monte (qual fosse então o seu nome, não restou qualquer memória).
Era uma vez, nesse monte, uma fábrica.
Era uma vez, nessa fábrica, operários marceneiros , que com as suas mãos hábeis, trabalhavam a madeira, dando a uma tradição secular.
Era uma vez crianças, muitas crianças.
Era uma vez um lavrador.
Era uma vez a burra do lavrador.
Um dia
As crianças, descuidadas, e ainda não sensibilizadas para os riscos que o fogo comporta, resolveram deitar fogo a uns papéis velhos, junto das instalações da marcenaria (não havia ainda os papelões, a lembrar a necessidade de reciclagem dos desperdícios).
E, ou porque, sentindo frio, quisessem aquecer-se, ou porque se entusiasmassem a presenciar a dança das chamas,foram acrescentando mais e mais papel. Quando se aperceberam do perigo, era já demasiado tarde a fogueira erguia-se em grossas labaredas, avançando devastadoras sobre a fábrica.
Impotentes para vencer as chamas que , incontroláveis , iam arrasando todos os sonhos, os operários resolveram abandonar as
instalações, pondo a salvo as suas vidas.
Da marcenaria, apenas restavam cinzas.
Nas cinzas da marcenaria, o futuro dos operários e suas famílias.
O lavrador passava por ali, de regresso a casa conduzido pela burra .
Pressentindo o fogo, a burra ergueu ao ar o seu nariz sensível, aspirou intensamente o cheiro a queimado e fixou os olhos na enorme fogueira.
Em vão tentou o lavrador obrigar a burra a seguir o seu caminho: fazendo jus ao aforismo, quando mais o dono a puxava para longe do fogo, tanto mais ela, teimosamente num acto suicida, fincava as patas no solo, como que a dizer:
"Daqui não saio, daqui ninguém me tira!"
Cônscio de que não poderia pela força vencer as razões ( fossem elas quais fossem) do animal, o lavrador resolveu pôr-se a salvo,abandonando-a à sorte que escolhera (vá lá alguém adivinhar porquê).
Diz-se que, quando no dia seguinte os operários voltaram ao local para verificar o que sobrara dos seus postos de trabalho, encontraramjunto às cinzas da fábrica, o corpo carbonizado da burra e que ali se deixara morrer ficando até ao fim a observar o espectáculo únicodas chamas bruxuleantes.
Da fábrica, dos operários, do lavrador, dos meninos que atearam o fogo, ninguém mais falou...
Mas o Povo, que tem sempre razão, por razões que desconhecemos, decidiu, em memória da burra-poeta, mudar o nome desse elevado (nome que ninguém mais recorda qual seria...) para MONTE DA BURRA.
É aí, nessa pequena elevação de RIO TINTO,que está instalada a escola Preparatória de Rio Tinto, que por essa razão é a
ESCOLA DO MONTE DA BURRA.