Contos e Lendas
Bombarral e a Santa Caveira
Esta lenda refere-se a uma caveira (que foi) existente na pequena capela de São Brás, situada dentro do perímetro do cemitério da vila do Bombarral. Este templo, que não se encontra completo, fez parte de uma antiga igreja quatrocentista, também da mesma invocação. Destrui-a parcialmente um tremor de terra pouco depois da sua construção, correndo o ano de 1531. Para aproveitamento destas paredes que não tombaram, foi feita uma pequena galilé alpendrada na fachada. Por cima do portal encontra-se um nicho com uma imagem de pedra da segunda metade do século XVI, correspondendo ao São Brás.
No interior da capela, do lado do Evangelho, encontra-se uma arca tumular, onde jaz Luiz Henriques. Quem era? Pois foi ele o mosteiro-mor de D. João I. Algo sobre o ilustre diz numa inscrição em caracteres góticos, e numa das faces da cobertura estão gravadas uma lança e uma bandeira. As paredes são revestidas a azulejos do tipo padrão, seiscentistas, com guarnição azul, amarelo e laranja. Pois, conforme a lenda, no cenário desta capela há uma caveira que detém poderes especiais para a cura das doenças do gado. E essa caveira encontrava-se guardada no referido templo e só de quando em longe era utilizada. Procurei localizá-la, mas em vão. Ao corpo de quem pertencia? Pois a um lavrador da região cujo nome não consta. À generosidade da sua disposição testamenteira não correspondeu a memória do seu nome. Pois o tal lavrador, sentindo que a morte lhe rondava a porta, recomendou:
- Três dias depois de eu ter sido enterrado, abram o coval e retirem a minha caveira. Ante a perplexidade dos seus mais chegados, declarou:
- Ides encontrá-la já limpa de carnes.
- E que lhe fazemos, patrão?
- Não sejas impaciente! Pois a essa minha caveira usai-a na cura das doenças do gado.
E assim se cumpriu. Não se sabe a data da morte do lavrador, mas o que é certo é que as curas se multiplicaram e afamaram, a tal ponto que as autoridades eclesiásticas proibiram o uso da relíquia sem a sua autorização. Isto vem exarado no insuspeito Hagiológio Lusitano, que indica o ano de 1618 para tal determinação, Que levou a assinatura do metropolita de Lisboa, D. Miguel de Castro.
Porém em 1625, tendo ocorrido uma grave epidemia entre o gado, os lavradores do Bombarral entenderam que era o momento de desobedecer, recorrendo ao santo lavrador. Obrigaram então o padre de São Brás a expor a caveira e, continuamos a seguir o Hagiológio Lusitano, o gado doente passou diante da caveira e lambeu-a, vindo a curar-se, enquanto o gado são nem para ela olhou…
A caveira, para estas curas, era transportada para o adro com toda a solenidade. A tradição lendária, cuja data de origem se desconhece, deve ser anterior ao reinado dos Filipes em Portugal