Lisboa Antiga
Nesta cidade das sete colinas
De marinheiros e varinas
Que acorda cheia de vigor;
Vai sorrindo para a vida
Cumprindo a prometida
Promessa de grande amor.
Saudades dessa Lisboa
Estrela ou velha Madragoa
Santos e Alcântara também;
Ver o eléctrico a circular
Nos seus carris a cantar
Com destino até Belém.
Do Castelo até Alfama
Todo o Alfacinha ou Dama
Passeava com vaidade;
Até a Santa Catarina
Gritava por qualquer Varina
Quando acordava a cidade.
O Bairro Alto já velhinho
Continua no seu cantinho
A jogar com sabedoria;
Vendo a Baixa com destreza
Estendendo a toalha na mesa
Do bairro da Mouraria.
O castelo com sua altivez
Vai olhando de quando em vez
Para a Senhora da Saúde;
Que no Martin Moniz sediada
É todos os anos festejada
Com muita fé e virtude.
E a Graça com sua beleza
É uma dávida que a natureza
Quis a esta Lisboa ofertar;
Dando-lhe o grande valor
Dotando-a de todo o esplendor
Que a um bairro se pode dar.
Quem viu Alvalade ou Areeiro
E passou por ali primeiro
Antes de chegar a São José;
Andando por esta cidade
Fica com a alegre vontade
De a percorrer toda a pé.
Da Estrela a Campolide antigo
Encontra sempre um amigo
Que com vontade não fique;
De conhecer e passear
E até por ali ficar a morar
No bairro de Campo de Ourique.
E o Marquês imponente
Recebe ali toda a gente
Que de longe o vem visitar;
E descendo até ao Rossio
Cheio de orgulho e brio
Desce a avenida a cantar.
Saudades dos barcos no Tejo
Das varinas que já não vejo
Com seus pegões anunciar;
Do alto, a pescadinha
Até já não vem a sardinha
Na canastra a saltitar.
O Guarda noturno já não existe
A noite ficou mais triste
Nem os pescadores vejo mais;
Onde estão os ardinas
Que em todas as esquinas
Apregoavam os jornais.
Oh! Querida Lisboa antiga
Que abandonaste essa vida
Perdendo os teus pregoeiros;
Hoje vives para outro futuro
Mas igualmente também duro
E repleta de aventureiros.
Autor: João Alegria Rodrigues