Por terras de Portugal
Trancoso
As profecias do sapateiro "Bandarra"
Sente Bandarra as maldades do mundo e particularmente as de Portugal
LXXI
Este Rei tem tal nobreza,Qual eu nunca vi em Rei:Este gyarda bem a leiDa justiça e da grandeza.Senhoreia Sua AltezaTodos os portos e viagensPorque o Rei das passagensDo Mar, e sua riqueza.LXXIIEste Rei tão excelente,De quem tomei minha teima,Não é de casta Goleima,Mas de Reis primo, e parente.Vem de mui alta sementeDe todos quatro costados,Todos Reis de primos gradosDe Levante até ao Poente. LXXIIISerão os Reis concorrentes,Quatro serão, e nada mais;Todos quatro principaisDo Levante ao Poente.Os outros Reis mui contentesDe o verem Imperador,E havido por SenhorNão por dávidas, nem presentes. LXXIVComendadores, Prelados,Que as Igrejas comeis,Traçareis, e volvereisPor honra dos Três Estados.E os mais serão taxados;Todos contribuirãoE haverá grão confusãoEm todo a sorte de estados. LXXVJá o Leão é espertoMui alerto.Já acordou, anda caminho.Tirará cedo do ninhoO porco, e é mui certo.Fugirá para o deserto,Do Leão, e seu bramido,Demonstra que vai feridoDesse bom Rei Encoberto. LXXVIUma porta se abriráNum dos Reinos Africanos,Contrária aos Arrianos,Que nunca se cerrará,A vaca receberáA nova gente que vem,Com prazer de tanto bemSeu leite derramará. LXXVIIA lua dará grão baixa,Segundo o que se vê nela,E os que têm lei com ela:Porque se acaba a taixa.Abrir-se-á aquela caixa,Que até agora foi cerrada,Entregar-se-á á forçadaEnvolta na sua faixa. LXXVIIIUm grão Leão se erguerá,E dará grandes bramidos:Seus brados serão ouvidos,E a todos assombrará;Correrá, e morderáE fará mui grandes danos,E nos Reinos AfricanosA todos sujeitará. LXXIXPassará, e dará bocadoNa terra da Promissão,Prenderá o velho Cão,Que anda mui desmandado. LXXXDe perdões, e oraçõesIrá fortemente armado,Dará neles S. Tiago,Na volta que faz depois. LXXXIEntrará com dois pendõesEntre os porcos sedeúdos,Com fortes braços, e escudosDe seus nobres infanções. (Introduz o autor poéticamentedois judeus que vêm buscar oPastor-Mor, um chamado Fraim eo outro Dão, e acham Fernandoovelheiro à porta). FRAIM LXXXIIDizei, Senhor, poderemosCom o grão Pastor falar?E daqui lhe prometemosRicas joias que gtrazemosSe no-las quizer tomar. FERNANDO Judeus que haveis de dar? JUDEUS LXXXIIIDar-lhe-emos grande tesouroMuita prata, muito ouro,Que trazemos de além-mar.Far-nos-eis grande mercêDe nos dardes vista dele. FERNANDO LXXXIVEntrai, Judeus zse quereis,Bem podeis falar com ele,Que lá dentro o achareis. (Continua)