AS MÁS COMPANHIAS -Porque é que aquele grosso bago de uva, ainda há pouco são, está sentido?- É porque, estando exposto ao vento, à chuva, a pouco e pouco tem apodrecido.-Mas o que está ao pé, do outro lado, bem abrigado e protegido,quase se encontra no mesmo estado.- É porque, estando ao outro quási unido,o companheiro o tem contaminado.Por isso podes tu avaliar quanto as más companhias podem prejudicar.Evita quanto puderesandar em más companhias;procura as boas se queres ter suaves alegrias. João Rodrigues (Alegria)
HINO À MINHA TERRA SEZURESSezures, terra de encantoCheia de virtudes e explendorPor isso te quero tantoQue te dou o meu amor. Oh! Senhora da Graça Padroeira Desta freguesia sem rival És a mãe mais verdadeira Da minha terra natal.Óh! fontanário das duas bicasCom a água tão fresquinhaSempre a correr, a correrSeja dia ou à noitinha. Óh! freguesia nobre e altiva Que na tua imensa vastidão Tens contigo outros povos Que te enchem o coração.Da quinta do ValamosoDos Valdonaires ao Rio DãoO Boco com o Santo AntónioA campina com o São João. Da Quinta da Ponte à Vacaria E a sua nova Capelinha A brilhar no meio da serra Com a sua Nobre Santinha."Sezures " forte e audazCom tua gente hospitaleiraTerra de "Amor e de Paz"És uma aldeia da "Beira". João Rodrigues (um Sezurense)(Nota: Repeti esta publicação porque na primeira houve um pequeno deslize de alinhamento e pelo sucedido peço desculpa.)
QUEM SOU EU? Episódio nº.12
Fins de Setembro de 1966; guia de marcha na mão, roupa na já referida "mala de cartão"e, lá vou eu mais uma vez para a estação do comboio afim de tomar novo itenerário, desta vez o destino foi Tomar; - Regimento de Infantaria nº. 15 .
Viagem feita, chegada à estação, vai de palmilhar uns quilómetros até ao quartel, pois o dito ficava fora da cidade; cheguei então ao local que iria ser a minha casa por alguns meses; apresentação feita, novo ambiente, novos companheiros de luta e novo ambiente de trabalho, pois a partir desta data a vida era outra; das 9 Horas da manhã até às 17 Horas sempre agarrado à uma velha máquina de escrever e com o chorudo ordenado (o chamado "Pré" ) de 30$00 que deduzindo os descontos, sim porque os militares também faziam descontos ($50) recebia liquídos 29$50; foram assim os meses até que, sem ter direito a uns diazitos de licença resolvi abrir os olhos e partir para outra; era final de Março de 1967 resolvi ir adido (emprestado) para o Quartel General da 2ª. Divisão em Santa Margarida, mais conhecido por "Campo Militar de Santa Margarida".
Aí passei bons momentos: quartel pequeno, pouca gente, boa camaradagem, enfim éramos como uma familia; pasados 3 meses tive finalmente direito a uns dias de licença, " um mês de licença com viagens pagas para a minha santa terrinha ida e volta"
até parecia um felizardo a quem tinha saido a sorte grande; mas era assim, como éramos poucos, então todos os meses vinham uns tantos de licença e nesses eram incluidos 2 com viagens pagas o que me aconteceu a mim duas vezes durantea minha estadia de vinte e seis meses e meio que lá estive a prestar serviço, mas tive mais vezes licença porque lá era de três em três meses vinhamos um mês de licença.
(CONTINUA)
A vida é um livro Pois quando o verão acabaQue alguém nos pôs à frente E o outono se aproximaPara folhearmos diariamente A nossa vida vai mudandoNas horas que vamos vivendo, E de vez em quandoE assim irmos percorrendo A chuva cai no nosso diaDela as diversas estações E vai pôr na nossa alegriaQue os nossos corações As nuvens da tristezaEstão obrigados a viver E até a nossa mesaEnquanto o coração bater Fica mais cruel e friaVamos caminhando hora a hora É este mundo em transiçãoNa primavera da vida Que obriga o nosso coraçãoOnde tudo são rosas e alegria A este sofrimento ferozAté que virá um dia Que sendo pais e avósO verão da nossa mocidade A vida por vezes atraiçoaTemos então nessa idade E sem ter gente boaO brilho e o fulgor Que os acarinhe e conforteToda a alegria e amor Ao sentirem chegar o outonoQue a vida nos pode dar Vivem então o abandonoNem pensamos na falsidade Daqueles que amaram na vidaQue este mundo de maldade E por quem tanto lutaramNos irá dar um dia E que agora fica esquecida. João Rodrigues (Alegria)
QUEM SOU EU ? Episódio nº 11
Junho - fins de Junho de 1966; está na altura de seguir para outra fase da minha vida; - destino - Regimento de Artilharia Nº. 4 - Leiria: guia de marcha na mão roupa na mala, a chamada "mala de cartão" tão usada nesse tempo e lá vou eu mais outros companheiros a caminho do comboio e em seguida lá chega a partida para a viagem que nos levaria ao próximo destino.
Chegados a Leiria, lá encontramos o repectivo Quartel onde fiquei alojado por mais algum tempo.
Quartel pequeno mas com uma vista maravilhosa sobre a Cidade do rio Liz, que daria para inspirar poetas se alí os houvesse, achei um lugar pacato e com uma certa paz onde nos agrada viver.
Apresentação no quartel, novos aposentos, novo número me foi atribuido, desta vez o número "999", número um pouco esquisito mas foi o que me calhou e aí não há nada a fazer, é ficar com ele e cara alegre.
Novas armas, novos oficiais, novos companheiros, nova instrução, nova aprendizagem, foi o romper de uma nova aurora na minha vida; ali aprendi a utilizar uma máquina de escrever pela primeira vez, e, digo-vos que até nem me saí mal porque quando passados três meses acabei o curso de Escriturário, consegui numa escala de 0 a 13, tirar 12,8 valores, o que mais tarde me valeu não ter sido mobilizado e ter que bater com os costados no então Ultramar donde toda a gente fugia naquele tempo.
E assim cheguei ao fim do curso e tornei-me um soldado "pronto", assim se denominava um soldado depois de fazer a recruta e a especialidade.
Fiquei então pronto e à espera de novo destino, sim porque alí não podia ficar uma vez que aquele quartel era só para se tirar a especialidade e a partir dali teria que ir para outro lado.
(CONTINUA)
SOLIDÃO Mergulhado na solidão Está o meu pobre coração Por te amar tão cegamente É por ti, bem podes crerQue ele bate até eu morrer Até parar para sempre. Vagueando pelas ruas desertas Como um simples sopro de vento Andarei à tua procura E simplesmente para te ver Mesmo sabendo que vou sofrer Depois com essa loucura. A minha vida feita em pedaços Sem o calor dos teus braçosQue pode ela valer? Se sem ti o meu viver É uma constante melancolia Um coraçao retalhadoPor um punhal de lâmina fria Minha vida sem rumoÉ como que desfeita em fumo A minha felicidadeOnde o barco dos meus sonhos Se vai debatendo nas ondasEscarpadas da realidade. Somos duas sombrasFantasmas da desilusão Para quem o coraçãoJá não tem valor algum Coração desiludidoE entre espinhos metido Coração sem rumo nenhum. João Rodrigues (Alegria)
QUEM SOU EU? Episódio Nº. 10 Ainda 1966: - Os dias passam, as semanas vão rolando e a instrução continua, aos Sábados há autorização para se ir á terra natal mas é complicado pois a barba tem que ser bem feita, as botas têm que ir bem luzidias e o militar tem que sair do Quartel com aprumo porque se assim não fôr não recebe a respectiva autorização para sair. E então lá vou eu até à santa terrinha matar as saudades dos familiares para na Segunda Feira voltar ao mesmo ambiente. Chegou então o fim de Junho; é tempo de jurar Bandeira e chegou o dia para esse efeito; toda a gente na parada, vestidos com o fato de gala para podermos dizer aquelas frases que os nossos superiores nos tinham ensinado: - Juro defender a Pátria até à ultima gota de sangue, (Mentirosos) juro mais uma série de aldrabices que eles nos mandaram dizer e que a gente tinha que respeitar pois era esse o nosso dever, - sim era isso que eles diziam, (O nosso dever). Finda esta primeira parte chegou a altura de sabermos o que ia acontecer na fase seguinte, ou seja tirar a especialidade, ou seja tirar o curso para o qual as nossas capacidades seriam as ideais. - Foi então que eu com a minha 4ª. Classe do Ensino Primário, fui escolhido para frequentar um curso de Escriturário, ou seja fazer um curso de Dactilografia. Foi então que chegou a altura de dizer adeus ao "Papa Chouriços", sim porque eu ainda não vos tinha dito: - A gente chamava "Papa Chouriços" ao Quartel por estar perto da santa terrinha e daí a gente aos fins de semana ir lá buscar um farnelzito no qual se incluia um bocado de presunto e uns chouriçitos, daí o nome escolhido para o respectivo quartel, que assim deixava de ser o Regimento de Infantaria nº. 14 para passar a ter o cognome de "Papa Chouriços". - Também nunca soube que tinha sido o Habilidoso que se tinha lembrado de pôr um nome destes a um quartel militar com o gabarito que aquele tinha, mas enfim são coisas que a vida nos trás e que nós temos que aceitar. (CONTINUA)
SAUDADESaudade é sonho que tremeSaudade é canto que choraÉ como um beijo que gemeComo um ai que se evapora. Saudade é gozo que doi É pranto que na alma rola É doçura que nos roi Tristeza que nos consola .Não houve ninguém aindaQue soubesse definirO que é essa tristeza infindaQue às vezes nos faz sorrir. Saudade é como que amar Alguém que foge de nós É como querer cantar E prender-se-nos a voz.É ter o coração cheioDe espinhos e desejosÉ sentir dentro do peitoUm punhal que nos dá beijos. É dormir sem saber onde Chorar sem saber porquê Chamar quem não nos responde Abraçar quem não nos vê. João Rodrigues (Alegria)
QUEM SOU EU? Episódio Nº. 9 Maio de 1966: - Começou então a minha vida militar: - Seis horas e trinta minutos, hora de saltar da cama e preparar para o novo dia; barba feita e todo o mais serviço de higiene concluido para darmos inicio a mais um dia de tropa; às sete vamos tomar o pequeno almoço; forma-se na parada para se dar os bons dias e ver se alguém ficou ou não na cama e daí vamos para o refeitório afim de revitalizar o nosso corpo; um pão com algo lá dentro e o respectivo copo de aluminio com o café que, mais parecia água de lavar as castanhas que outra coisa. Ás oito horas começa o trabalho; toda a gente para a parada e entrar na formatura afim de ser feita a chamada para constatar se algum ficou por aí a tentar esquivar-se ao assunto. É então apresentada a ordem de trabalhos para que cada um tenha algo que fazer: Tu aí, vais para o refeitório descascar batatas, tu aí vais varrer a parada, e tu ai ó 39 vais fazer limpeza à caserna; os outros vêm comigo, dizia o Alferes que comandava o pelotão, vamos para a instrução, agora vamos correr, depois vamos saltar e por aí andáva-mos até que ele entendesse que era necessário, depois dizia ele com aquela cara de safado que a tropa lhe implantara, vão mudar de roupa e daquí a dez minutos quero-os aqui na formatura; lá continuavamos nós na corrida do costume, da parada para a caserna e da caserna para a parada. Outros dias, outras lutas, e um dia quando ainda todos estavam arrumadinhos na formatura eis, que, o respectivo Alferes se lembrou de uma coisa engraçada; , sabem que ele às vezes tinha destas coisas: Quem é que sabe andar de bicicleta? Perguntou ele em voz alta; e logo a seguir disse com aquela voz descarada: dê dois passos em frente; e qual não foi o meu espanto só eu e mais três ficamos para trás, sim porque nós não sabiamos andar de bicicleta, uma vergonha digo-vos isto, mas enfim era a vida, eu não tinha bicicleta nem tão pouco tempo para andar nela e por iso não tinha que me envegonhar de não ter tais conhecimentos, mas o safado do Alferes com ar de desdém virou-se para nós os quatro e disse-nos: vocês saim daí e vão para a caserna e, os outros vêm comigo em passo de corrida que eu vou arranjar bicicletas para todos; e, qual não foi o nosso espanto ao vermos daí a poucos minutos todos os outros, não a andar de bicicleta mas sim a trazer cadeiras e mesas do edificio do Comando para a parada para serem carregadas numa camioneta que alí se encontrava; ora aprendí ali, naquele momento uma agradável lição que me deixou perplexo e pronto para futuros convites desse género. (CONTINUA)