Por terras de Portugal
Sente Bandarra as maldades do mundo e particularmente as de Portugal I Como nas AlcaçariasAndam os couros às voltas,Assim vejo grandes revoltasAgora nas Cleresias. II Porque usam de SimoniasE adoram os dinheiros,As igrejas, pardieiros,Os corporaispor mais vias. III O sumagre como a calFGaz os couros ser mociços,Ah! quantos há maus noviçosNessa Ordem Episcopal. IV Porque vai de mal a malSem ordem nem regimento,Quebrantam o mandamento,Cumprem o mais venial. V Também sou oficialSei um pouco de cortiçaNão vejo fazer justiçaA todo o mundo em geral. VI Que agora a cada qualSem letras fazem doutores,Vejo muitos julgadores,Que não sabem bem, nem mal. VII Borzeguins para calçarHão-de ser de cordovães,Notários, TabeliãesTem o tento em apalpar. VIIIVê-los-eis a porfiarSobre um pobre ceitil,E rapar-vos por um milSe vo-los podem rapar. IX Também sei algo brunirQuaisquer laços de lavores;Bacharéis, ProcuradoresAí vai o perseguir. X E quando lhe vão pedirConselho os demandões,Como lhe faltam tostões,Não os querem mais ouvir. (Continua)