Rua da Alegria
A minha rua está deserta
E vai morrer pela certa
Um dia podem crer;
Tudo teve e hoje nada tem
Está quase sem ninguém
Parece enferma e a sofrer.
O futuro vai decidir
Que por cá ainda há-de-vir
O progresso pois então;
Virão outros empresários
E com eles os operários
Que muito valor lhe darão.
Teve barbeiro e retrosaria
Linhas e botões ali vendia
E outras coisas que de mais;
Panos, camisas e peúgas
Para casadas e viúvas
E produtos de higiene pessoais.
Mercearia com bons produtos
Grande variedade de frutos
Do melhor que o mercado tinha;
Queijos, azeites, massas e licores
Grande diversidade de sabores
Arroz e latas de sardinha.
Também grande drogaria
Onde todos os produtos havia
Desde a creolina ao petróleo;
Produtos para o uso do lar
Sabão, e solarina para limpar
Para as máquinas tinha óleo
Um talho logo ali à beira
Com chouriço e farinheira
E boa carne para estufar;
Carne de vaca para fazer
Frango e galinha para coser
E bifes e costeletas para fritar.
Ao lado havia o alfaiate
Que sem ser disparate
Tinha boa confeção;
Fazendo todos os fatos
Mais caros ou mais baratos
Para o inverno ou para o verão.
Casa de diverso vestuário
Para todo o uso diário
Homem, mulher ou criança;
Para trabalho ou passeio
Para escola ou recreio
Para ginástica ou para a dança.
Sapateiro para calçado consertar
E loja para malas arranjar
Também tinha latoeiro;
Eletricista e canalizador
Para trabalhos compor
Não faltando taberneiro.
Tabernas eram três
Todos vendiam de uma vez
Vinhos, aguardentes e sumos;
Copos de três ou dois
Águas para antes e depois
Fósforos e material de fumo.
Ali defronte uma padaria
Que todos os dias cozia
O bom pão que nos alimentou;
Foi-se embora num dia
Deixou esta freguesia
E nunca mais voltou.
Materiais para cabeleireiro
Que vendia por bom dinheiro
Ali havia para escolher;
E por cima um partido politico
Que mais parecia um paralítico
Que acabou por desaparecer.
Ao lado cunhos e cortantes
Que em poucos instantes
Muitas ferramentas afiou;
Só sei que também saiu dali
Para bem longe daqui
E nunca mais voltou.
Uma fábrica de emblemas
Taças grandes ou pequenas
Tudo ali se produzia;
Mas também se foi embora
E nada resta por agora
Da minha rua da Alegria.
Autor: João (Alegria) Rodrigues